domingo, 10 de outubro de 2010

Que dá as Quedas

Eu aprendi a andar de bicicleta relativamente tarde, como tantas outras coisas na minha vida, até nisso eu fui atrasado, mas então na noite de sábado, 12 de junho de 1999, cansado da minha incapacidade, e, chateado por não conseguir fazer algo relativamente simples, peguei a minha bicicleta, subi nela, pedalei e simplesmente andei. Sem cair. Foi uma noite daquelas que você não esquece. Por que? Porque foi mais uma conquista minha, só minha. Não tinha ninguém para segurar a bicicleta para mim, um pai, um amigo, ninguém. Se eu caísse não haveria ninguém para me ajudar a levantar, assim como não houve ninguém para ficar feliz pela minha conquista.
Assim como até hoje não há ninguém.
Por que demorei tanto tempo para aprender? O que? A andar de bicicleta ou que não há ninguém?
A andar de bicicleta a resposta é óbvia: Medo de cair, de me machucar, de sangrar.
E que não há ninguém? Acho que de certa forma eu sempre soube, só me recusava a acreditar.
Hoje posso dizer que aprendi a cair, às vezes caio de pé (e quebro as pernas), às vezes caio de cara, às vezes até a minha cara cai, às vezes coisas se quebram antes mesmo de me fazerem cair.
Cair é muito fácil, tudo conspira para te levar para baixo, a Lei da Gravidade, um vento contra o tempo, um contra-tempo, um passo em falso, pessoas falsas, enfim, tantas coisas, levantar é difícil e, para levantar em algumas ocasiões te exigem uma força que você não possue mais.
Mas eu me obrigo a isso, como eu sempre digo, estou mais do que acostumado a fazer coisas que não quero. Muitas vezes eu queria ficar ali, caído, quietinho, com a cara na lama, chafurdando até me camuflar, mergulhando até me afogar, revolvendo a areia até me enterrar, mas não sei de onde, não sei porque, eu levanto, sozinho, levanto mais forte, reergo minhas muralhas mais fortes, e, nem me limpo, fico sujo da terra, da lama, da grama, do sangue, porque preciso me lembrar de onde eu vim, onde cheguei, preciso saber que minhas quedas, assim como me reerguer, são como os dias de conquistas, preciso me certificar que jamais esquecerei, nem aqueles que me derrubaram, porque isso faz de mim mais forte. É como aquelas noites que por mais escuras, por mais que você não veja para onde vai, você não esquece jamais.
Para passar a perna vão ter muitos, para pisarem, vão ter milhares. Mas, para ajudar a levantar só haverá um: você mesmo.
Nunca se consegue ser realmente ajudado por outrem; é preciso que se encontre a força para ajudar a si próprio.

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