terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Palavrões-tambem-são-importantes

Por Luís Fernando Veríssimo



Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a"vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções,seu jeito, sua índole."Pra caralho", por exemplo.Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via - Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!".O "Não, não e não!", assim como o "Absolutamente Não" já soam sem nenhuma credibilidade.O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto.Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!".O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Caetano Veloso.Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes,que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O"porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacara atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e enforcadora derivação "vai tomar no meio do seu cu!". Você já imaginou o bem
que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável , se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:"Chega! Vai tomar no meio do seu cu!".Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoaa camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo noslábios.E
seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maiorpoder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição maisexata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação
e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de"foda-se!" que ela fala.Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e Foda-se!

sábado, 26 de janeiro de 2008

Somewhere Over The Rainbow



Judy Garland imortalizou-se como Dorothy juntamente com a canção "Somewhere over the rainbow", em O Mágico de Oz, clássico musical de 1939. Apesar de ser qualificado como infantil, O Mágico de Oz tem lições que apenas as pessoas mais sensíveis conseguem captar inteiramente. Como diz nos créditos iniciais: "Um filme para os jovens de coração."



Na história, nós conhecemos Dorothy (Judy Garland) e seu cachorro, Totó. Procurando um lugar sem problemas, eles são levados por um furacão até o mundo de Oz. Para voltar pra casa precisa da ajuda do misterioso Mágico de Oz, durante a jornada encontra o Espantalho (Ray Bolger), o Homem de Lata (Jack Haley) e o Leão Covarde (Bert Lahr).



É interessante notar a dicotomia que os dois mundos nos mostras, apesar de explícita, creio que a maioria não atenta para isso: O mundo real, o Kansas, o lar de Dorothy, é mostrado em tons de sépia, enquanto o mundo fantasioso de Oz é altamente colorido, psicodélico, alegre (excetua-se os cenários da bruxa malvada do leste, obviamente). Esse paradoxo provavelmente tenta nos mostrar que nem sempre o mundo real é tão bonito como se imagina.



É nesse mundo onírico que eles saem para visitar o Mágico e passam por todo tipo de aventura, mas o objetivo de sua jornada é, essencialmente, tornarem-se mais dignos.



Uma cena interessante e também muito divertida é quando Dorothy encontra o Espantalho, este, ao ver a surpresa da menina ao encontrar um ser sem cérebro que consegue falar, diz: "Há pessoas sem cérebro que são muito faladeiras, não acha?" Ironia pura.



Outra cena que merece destaque é o encontro com o Homem-de-Lata que diz: "Se eu tivesse um coração poderia ser humano". Coisa que na vida real não acontece na prática. O que mais tem por aí é "ser-humano" sem coração (e também sem cérebro).



Os outros vêem o Mágico como o todo-poderoso, que tem a habilidade para lhes dar o que precisam, o que tanto desejaram. Desse modo, é uma grande decepção e uma grande surpresa quando Totó abre a cortina e tudo o que eles vêem é um homenzinho comum puxando alavancas. Suas expectativas não são atendidas. Não há nenhum mágico no final das contas. Na verdade, na melhor das hipóteses, o mágico é neutro. Ele não é mau. Ele não é bom. Ele é falso. Ponto final. Fim da história.



Como diz o Mágico para o Homen-de-Lata: "Quer um coração? Não sabe o quanto é sortudo por não tê-lo. Corações só vão ser práticos quando não puderem ser partidos." E complementa: "Um coração não é julgado por quanto você ama...mas por quanto você é amado pelos outros"
Dorothy, o Homem de Lata e os outros personagens podem ter acreditado no poder do Mágico, mas isso não fez esse poder se tornar real. Claro, tornou a vida mais fácil por um tempo pensar que alguém ou alguma coisa poderia fazer com que todos os problemas desaparecessem, que era possível viver feliz para sempre, mas não ajudou muito em circunstâncias reais. Na prática, o homenzinho com as alavancas não lhes conseguiu nada. O Leão ainda precisava de coragem, e o Espantalho, de cérebro. Dorothy continuava querendo ir para casa, e o Homem de Lata não conseguiu o coração que queria. Acreditar e pensar que o Mágico tinha poder foi o que instigou a jornada do grupo. Em outras palavras, um pensamento (sobre o poder do Mágico) levou à ação (sair para encontrar o Mágico). Mas esse pensamento mal orientado também os levou a um beco sem saída.


Quando o Mágico diz ao Espantalho: “Pelos poderes em mim investidos, dou-lhe este diploma - agora seja inteligente”; quando ele diz ao Leão: “Pelos poderes em mim investidos, dou-lhe esta medalha de coragem - agora seja corajoso!”, funciona? Acontece? Talvez nos filmes, mas na vida real, quando somos proclamados adultos - “agora seja maduro!”-, ficamos perplexos, com o queixo caído e olhos bem abertos, balbuciando: “Como?”.



Na realidade, o Espantalho não precisava de um cérebro, como demonstra durante todo o filme, é o que tem as melhores idéias e a maior inteligência. O Homem-de-Lata não precisava de um coração para ser humano, sua humanidade consistia nos sentimentos que nutria dentro de si e não no que batia no seu peito de lata. E o Leão Covarde nos mostra que não é corajoso aquele que não tem medo de nada, mas sim aquele que encara seus medos de frente e os supera. Já a Dorothy aprendeu que "não há lugar melhor que o nosso lar." Pois bem, ainda espero ter inteligencia suficiente para descobrir onde está, coragem para afrentar as adiversidades do caminho e poder encontar o meu lar... tomara que até lá meu coração ainda esteja inteiro (mesmo com fissuras) para que eu possa sentir que minha jornada pela estrada de tijolos amarelos finalmente teve seu fim ao encontrar o meu lugar, mesmo que seja além do arco-íris.





Em algum lugar além do arco-iris...bem lá em cima

There's A Land That I Heard Of Once In A Lullaby.

Existe uma terra sobre a qual ouvi uma vez em uma

canção de ninar

Somewhere Over The Rainbow...Skies Are Blue

Em algum lugar além do arco-iris...os céus são azuis

And The Dreams That You Dare To Dream Really Do Come
True.

E os sonhos que você ousa sonhar se tornam realidade

Someday I'll Wish Upon A Star

Algum dia, vou desejar a uma estrela

And Wake Up Where The Clouds Are Far Behind Me

Onde os problemas derreteram como gotas de limão nas

chaminés

That's Where You'll Find Me.

É lá que você vai me achar

Somewhere Over The Rainbow... Blue Birds Fly

Em algum lugar além do arco-iris...pássaros azuis

voam

Birds Fly Over The Rainbow

Passaros voam por cima do arco-iris

Why Then Oh Why Can't I?

Então por que eu não posso?

Somewhere Over The Rainbow... Blue Birds Fly

Em algum lugar além do arco-iris...pássaros azuis

voam
Birds Fly Over The Rainbow

Passaros voam por cima do arco-iris

Why Then Oh Why Can't I?

Então por que eu não posso?

If Happy Little Blue Birds Fly Beyond The Rainbow...

Se pequenos e feliz passáros azuis voam acima do

arco-iris

Why Oh Why Can't I?

Por que eu não posso?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Que faça-se a Luz...


Em Março de 1610, num livreto de apenas 24 páginas, que tinha o título latino de Sidereus Nuncius (Mensageiro das Estrelas), Galileu comunicou ao mundo a maior parte das suas descobertas astronómicas. Poucas vezes um relatório científico causou tanto impacto nos seus contemporâneos. Johannes Kepler, talvez o maior astrónomo de todos os tempos, chorou de emoção ao lê-lo, tendo escrito, em apenas 11 dias, um entusiasmado panfleto em sua defesa. O pronto acolhimento de Kepler prenunciou o apoio que a obra iria conquistar nos meios cultos da Europa. Galileu dedicou o livro a Cosimo II, grão-duque da Toscana e chefe da poderosa família Medici, baptizando as luas de Júpiter com o nome de "astros mediceus".


Em 21 de janeiro de 2008, surge o blog, sabe-se lá quantas páginas terá, mas também servirá para comunicar alguma das minhas "descobertas", servirá para informar, entreter, falar sobre tudo, sobre nada, sobre qualquer coisa ou alguma coisa qualquer. Criticar, elogiar, pedir, compartilhar...um pouco de cada coisa (às vezes muito)...

E quem sabe, assim como Galileu emocionou Kepler, eu consiga, por algumas vezes, arrancar lágrimas (nem que seja à força! >_<) de quem estiver lendo, ou melhor ainda, quem sabe eu consiga pôr um sorriso nos lábios de quem estiver chorando...

Independentemente disso...o importante é que agora começou...que faça-se a luz...a luz das estrelas brilharem e de seu mensageiro.

Bem-vindos.