domingo, 22 de junho de 2008

COMO ME TORNEI ESTÚPIDO - Martin Page


Sinopse

Antoine, o protagonista deste romance, é um rapaz como muitos outros. Não gosta de ser manipulado, não gosta de explorações colonialistas, não gosta que lhe obriguem a estudar assuntos desinteressantes, odeia burocracia e todas as suas máscaras.

Traduzir do aramaico e conhecer a fundo o cinema de Sam Peckinpah e Frank Capra, no entando, não o levaram muito longe. Por isso, um belo dia, Antoine anuncia a seus amigos mais queridos - Ganja, Charlotte, Aslee e Rodolphe - um plano perfeito. Investir na idiotice, como forma de sobrevivência.

Depois de tentar o alcoolismo e o suicídio, Antoine está convencido de que só a estupidez lhe permitirá ser plenamente aceito pela sociedade em que vive.

E o que pode ser mais estúpido que ganhar dinheiro, muito dinheiro, e gastar em bens de consumo inúteis?

Manipulando imagens nonsense deliciosas, verdadeira homenagem a mestres do surrealismo e do humor francês, como Boris Vian, Alfred Jarry e Eric Satie, Martin Page oferece a seus leitores um banquete para a inteligência. Um livro leve, fácil de ler, enganosamente simples, e rico, repleto de minuciosas citações e piadas ao pé do ouvido. Um livro feito sob medida para todos os Antoines que existem por aí.


Crítica

Foi impossível não ler Como me tornei estúpido sem me identificar o mínimo que seja com Antoine. E creio que para qualquer pessoa minimamente consciente também será impossível.

O livro é fácil de ler, trata de questões sociais, filosóficas, amorosas, psicológicas e pessoais de uma maneira bem humorada, irônica e inteligente.

Quem nunca pensou que sua vida seria melhor se começasse a vive-la ou vê-la de uma maneira mais simplória? Ou, estúpida mesmo.

"Quando alguém constata que é um dos poucos que observam princípios morais nas relações humanas, pode ser tentado a cair na imoralidade, não por convicção nem por prazer, mas simplesmente para deixar de sofrer, pois não há maior dor que ser um anjo no inferno, um anjo cercado de diabos por todos os lados."

Viver o dia de hoje sem se preocupar com o de amanhã, sem se preocupar com os outros, ou com o meio ambiente, ou com os animais.... Viver paixões de maneira levianas e dizer "eu te amo" para qualquer pessoa. Comprar, gastar sem parar. Cultuar a beleza na sua forma estética e ver que só isso é o que realmente importa. Quem? Homem ou mulher, alguém com o mínimo de consciência não pensou nessas coisas nem que seja por um instante? Trair seus valores, juntar-se a essa multidão de zumbis com seus carros do ano de bancos de couro, bermudas coloridas, camisetas coladas em corpos bem trabalhados com sua latinha de cerveja na mão e colar de sementes no pescoço ouvindo um pagode básico ou um brega rasgado? Juntar-se aquelas siliconadas desmioladas com calças rosas brilhosas apertadas onde se vê até o fio-dental enfiado... lá mesmo...?

"É sempre a si mesma que a pessoa corrompe mais facilmente". Tentar adequar-se numa sociedade mais corrompida que seus próprios ideais para ser feliz, uma sociedade banal que julga os outros e a si mesmo pelo que tem ou parece e não pelo que são ou o que pensam ou sentem, isso sim, é estupidez.

"Os únicos que estão capacitados para julgar são os condenados". Eu mesmo já fui condenado por essa sociedade. Poderia julga-la, então, e o faço na medida do possível, às vezes de forma inteligente, irônica, com garbo... às vezes de forma... estúpida, que é a que ela merece.

"A organização social das formigas é muito mais bem sucedida do que jamais será a nossa e nenhuma formiga tem cátedra na Sorbone."

"A inteligência torna a pessoa infeliz, sotilária, pobre, enquanto o disfarce de inteligente oferece a imortalidade efêmera do jornal e a admiração dos que acreditam no que lêem".

Eu li Como me tornei estúpido, acreditei naquilo que li, porque é isso que eu vivo, se for mentira, ou eu estiver enganado no meu entendimento, a vida toda é uma farsa e um engano. E não só a minha.

"Eu não quero ter força para ser eu, nem coragem nem cobiça de ter algo parecido com uma personalidade. Uma personalidade é um luxo que me custa muito caro. Quero ser um espectro banal. Estou sufocado pela minha liberdade de pensamento, por todos os meus conhecimentos, pela minha abominável consciência."

Eu quero um Felizac também.


Nota

10 estrelas

**********

quinta-feira, 19 de junho de 2008


"...se você encontrar minha porta fechada para você, não deve estranhar nem supor que não lhe tenho estima e amizade. Deixa-me escolher o meu próprio destino, por pior que seja. Suporto um castigo e um risco que não posso revelar. Sou ao mesmo tempo o maior dos pecadores e o maior dos penitentes. Não creio que haja neste mundo lugar, para sofrimentos e terrores de tal natureza. Só há uma coisa que você pode fazer para mitigar meu sofrimento: é respeitar-me o silêncio."

terça-feira, 10 de junho de 2008

O VERMELHO E O NEGRO - Stendhal


Sinopse

Somente décadas depois de sua morte, Stendhal veio a ser plenamente reconhecido como um dos maiores romancistas da metade do século XIX. Ainda assim, a complexidade psicológica de seus personagens e suas penetrantes análises sociais influenciaram toda a literatura francesa posterior.

Stendhal é um dos mais célebres pseudônimos de Marie-Henrie Beyle. No início de sua carreira, seus romances foram recebidos com frieza, exceto por Balzac e Baudelaire. Seu estilo, ao contrário do excesso de ornamentos, valoriza o perfil psicológico dos personagens, a interpretação de seus atos, sentimentos e paixões.

O romance O Vermelho e o Negro (1830), sua obra-prima, tem como herói Julien Sorel, jovem ambicioso e sem escrúpulos, que é tido como um dos personagens literários mais fascinantes de todos os tempos.


Crítica

Há altos e baixos nesse livro. Em primeiro lugar: adoro os livros da Martin Claret como já deve ter dado de notar, são bons, são baratos e, apesar de não ser unanimidade, são bonitos. Porém, esta edição de O Vermelho e o Negro sofre de uma cruel revisão de texto que deixa passar alguns erros gramaticais, o que para um livro é um crime, mas são erros mínimos e nada que o prejudique.

Em segundo lugar: o termo "herói" pra definir Julien Sorel só mesmo se for em relação a ser o personagem principal. Há poucas, ou nenhuma atitude heróica no caráter de Julien, um pobre camponês de constituição frágil e de uma beleza quase andrógina que é odiado pelo pai e os irmãos por não ter habilidade com trabalhos pesados e passar seus dias lendo e estudando. Julien é ambicioso, deseja de qualquer modo subir na vida e não mede esforços para galgar a posição que almeja, seja na carreira eclesiástica, militar ou seduzindo mulheres ricas nem que seja preciso fazer parte de uma aristocracia que tanto despreza.

É realmente difícil de definir, mesmo no final do livro, qual foi o seu verdadeiro amor, se é que realmente amou alguém verdadeiramente um dia. Apesar de o próprio confessar que a Senhora de Rênal foi seu primeiro e único amor é inegável seus sentimentos por Mathilde de La Mole, independentemente disso, nenhum de seus amores foi realmente puro.

Apesar de, ao meu ver, ser um anti-herói, é quase impossível não se sensibilizar com Julien. A narrativa de Stendhal, na época, é única no gênero romancista e porque não dizer romanesco. A supressão de descrição de características físicas como o cenário e os trajes dos personagens e a importância que Stendhal dá às características psicológicas de seus personagens é o que realmente prende a atenção do leitor. Colocando-se como um narrador onipresente, Stendhal nos revela os mais profundos segredos e sentimentos de suas personagens, mostra a hipocrisia do ser humano seja lá a qual classe social pertence, a sua mesquinhez e individualismo, a desvalorização de princípios morais, o orgulho, suas traições e culpas, o que são capazes por amor, por ciúme, por ódio, por dinheiro ou pelo simples sadismo.

O final do livro é realmente excelente, apesar da notável pressa com que tudo termina, chega a parecer que Stendhal queria terminar logo o livro, o trágico fim de Julien que termina por ser uma vítima de sua própria ambição; a atitude de Mathilde, que muitos julgariam loucura, e a meu ver foi a mais profunda demonstração de amor e dedicação; e o comovente fim da Senhora de Rênal fecha com primor uma estória que fica gravada em nossas mentes num vermelho tão vivo quanto o sangue e num negro tão profundo quanto o luto.


Nota

8 estrelas

********

domingo, 8 de junho de 2008

The Blowers Daughter - Damien Rice

Falando do meu tio post passado, amanhã faz 2 anos que ele se foi, e também uso a sábia frase: "O silêncio da morte é enorme. O do meu coração maior ainda" pra tentar expressar um pouco aquilo que se sente. Cortando esse silêncio a música The Blowers Daughter de Damien Rice, sem dúvida alguma linda. Dedico o clipe e a música a ele que já se foi pra um lugar melhor, a Nicolina que nunca virá e alguém que nunca se irá por ter deixado marcas que não somem.


And so it is
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes...
And so it is
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it is
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes off of you
I can't take my eyes...
Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind off of you
I can't take my mind...My mind...my mind...
'Til I find somebody new

A Filha do Vento
E então é isso
como você disse que seria
A vida corre fácil pra mim
A maioria das vezes
E então é isso
A história mais curta
Sem amor, sem glória
Sem herói no céu dela
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos de Você
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos...
E então é isso
Como você falou que deveria ser
Nós dois esqueceremos a brisa
A maioria das vezes
E então é isso
A água gelada
A filha do vento
A aluna rejeitada
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos de você
Não consigo tirar meus olhos...
Eu disse que te detesto?
Eu disse que quero deixar
Tudo para trás?
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Não consigo parar de pensar em você
Meus pensamentos...Meus pensamentos...
Até conhecer uma nova pessoa.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O 3º TRAVESSEIRO - Nelson Luiz de Carvalho


Difícil falar desse livro sem entregar a estória. Por isso, vou ser mais sucinto. Ganhei esse livro do meu Tio Pedro que hoje já não está mais comigo, ele viu a peça baseada no livro e então me deu de presente.

O livro inicia com uma frase de Jean-Paul Sartre: "o inferno são os outros". Nelson Luiz de Carvalho não podia ser feliz na escolha dessa frase para retratar quais os reais conflitos que existem na sociedade que possam atrapalhar qualquer tipo de felicidade. A primeira vez que li O 3º Travesseiro o fiz em 1 dia e a segunda vez que li foram em 2. Não é um grande mérito, pois as 210 páginas falam de amor, paixão e liberdade com uma naturalidade empolgante que é impossível querer parar de ler.

A cada capítulo a emoção aumenta sem deixar a qualidade cair, personagens principais tão carismáticos que se torna impossível não torcer pela felicidade deles, conflitos psicológicos muito bem trabalhados, retratação da realidade de modo fiel, linguagem contemporânea que facilita a leitura, momentos românticos sem parecer piegas, momentos eróticos sem parecer vulgar, reviravoltas na narrativa e um final surpreendente garante para O 3º Travesseiro um lugar permanente na cabeceira da cama.

Já a frase final do livro é sem dúvida a mais emocionante, a que faz você se arrepiar e lagrimar ou chorar querendo que o final seja diferente, mas infelizmente o livro é baseado em fatos reais, e nada pode mudar isso: "O silêncio da morte é enorme. O do meu coração, maior ainda."


10 estrelas

**********