sábado, 27 de setembro de 2008

Quelque chose

Queria mesmo escrever algo de interessante aqui, demoro tanto tempo para atualizar que acho que seja lá quem leia merece ler algo de interessante e não reclames. Enfim, creio que não tenha nada de novo para contar.
Eu tenho um caderno. Um caderno em que escrevo frases interessantes de livros, filmes, séries, desenhos, dos outros e/ou minhas. Sempre que posso fico a reler, é como se tudo aquilo que estivesse lá fosse um pequeno resumo do que aprendi ao longo da vida até o momento.
Hoje me peguei lembrando a seguinte frase: "Aqueles que esquecem o passado estão condenados a repiti-lo". É interessante, mas é quase um paradoxo com a frase de Aristóteles: "Só uma coisa é negada a Deus: o poder de refazer o passado". Se nem mesmo "Deus" tem tal poder, quem somos nós para tanto? Talvez sejamos realmente sortudos por não ter tal poder, afinal, "o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente." E Nietzsche já dizia: "Abençoados os esquecidos pois tiram o melhor dos seus equívocos".´
Até quando é bom viver de passado? de lembranças? Até quando é necessário cometer o mesmo erro para que a lição seja aprendida e apreendida?
Não acredito em Deus. Mas às vezes me pergunto se o Mal de Alzaimer não seria realmente uma benção. Não posso dizer ao certo, pois não sei como funciona além da gente ficar repetindo várias vezes a mesma coisa. Mas seria interessante poder apagar da lembrança aquelas dores que a gente vai acumulando no inconsciente.
Pois é gente, porque às vezes eu também queria ter o cabelo azul, tangerina, me chamar Clementine e ter uma boa parte da minha memória apagada. Boas e ruins.
Uma Lacuna Inc. sem dúvida alguma faria fortunas comigo. Uma simples lobotomia já seria de grande valia, mas infelizmente as coisas não são assim tão simples. E logo a gente começa a varrer a sujeira da nossa mente pra debaixo do carpete do inconsciente, ou colocando tudo dentro daquele armário escuro e poeirento esperando que uma hora aquela porta estoure, como nos desenhos, derrubando toda uma montanha de inutilidades, futilidades, e, dores.
Pois é, mas "guarda o que não presta, encontrarás o que é preciso".
O que é preciso para sua evolução, para o seu encontro consigo mesmo, ou com algo maior, para quem acredite nisso, ou apenas com mais um monte de bagunça que é preciso pôr em ordem, talvez um armário, talvez sua mente, suas emoções ou sua vida.
Recorro a Nietzsche novamente para dizer que "o homem cansa-se da vida quando não a vive plenamente", mas assim como ele, "eu nada amo mais profundamente do que a vida, e ainda mais quando a detesto".
Em Os Sofrimentos do Jovem Werther, Goethe é bem enfático com tudo isso que tentei aqui dizer: "A natureza humana é limitada: ela suporta a alegria, a tristeza, a dor até certo ponto; se ultrapassar irá sucumbir". "O que é o homem, para que se atreva a lamentar-se a respeito de si mesmo?". "O homem é tão efêmero que, mesmo onde está verdadeiramente seguro da sua existência, no único lugar em que sua presença produz uma impressão real - na memória e no coração dos amigos - mesmo ali vai apagar-se e desaparecer, e logo!"
E sabe o que é pior? isso acontece sem qualquer auxílio de Mal de Alzaimer, Lacuna Inc. ou qualquer Haitiano com poderes especiais. O Tempo se encarrega das coisas. Todo o tipo de coisa.
Quelque chose.

sábado, 13 de setembro de 2008

Dois patinhos na lagoa

"... Sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse."Virginia Woolf estava certa.A cada ano, nesse mesmo 13 de setembro, de sorte para uns, de azar para outros, tento fazer um balanço do que aconteceu na minha vida. Tento não me prolongar muito, não parecer muito depreminte, depressivo ou desprezível, mas é fato: não consigo fazer o balanço apenas de um único ano. O que eu sou (seja lá o que for) é fruto de uma vida e não apenas de 12 meses. Por isso acabo me prolongando mais do que deveria, às vezes falando mais do que deveria, às vezes não falando o que esqueci ou procuro esquecer. Doravante, sem mais delongas...
Sim, é verdade. É a data mais odiada do ano por mim. E cá estou eu no dia do meu aniversário de 22 anos, com o pé machucado, com o que me resta dos meus cabelos desgrenhados revelando fios brancos precisando urgentemente de uma hidratação a qual não farei por pura preguiça, com a barba por fazer a qual continuará assim por puro charme; fazendo algo que com certeza me deixará com peso na consciência depois: comendo uma pizza de quatro queijos, tomando uma Coca-Cola e pensando na vida ao som de música fossa.
"Pensar faz sofrer" Stendhal falava e "Pensar é que faz você morrer" já dizia Mitch Albom. E com razão. Fico a pensar nesses 22 anos e não tem um dia sequer que eu não deseje estar morto.Ah! Pensem o que quiserem. Viver pode ser prazeroso, mas para quem o saiba, ou possa. Chegar a 22 anos sem muitas realizações é vergonhoso, admito. E mais ainda é não ter perspectiva nenhuma para faze-las.
Em um dos meus aniversários terminei a minha reflexão com um trecho de um dos temas de Pokémon: "Eu quero ir onde ninguém foi e muito mais além". E "para poder chegar onde se quer, tudo depende de onde se esteja.". Pois é, não consegui ir muito longe, ainda não conheço o mar, e quando paro para pensar no que eu estou perdendo é o que mais me dói, nas coisas que eu gostaria de poder ver e não posso, não por estar cego, mas porque meus olhos nunca poderão apreciar tais belezas e tamanhas grandiosidades. Talvez por isso eu tenha essa visão da vida e não consiga enxerga-la como as pessoas gostariam que eu a visse com essa grandiosidade e esplendor. É o que mais dói realmente: ve-la passar e apenas acenar com o lencinho branco após enxugar as lágrimas.Muitos dirão para correr atrás, pois é, com perdão do trocadilho meus pés não estão em bom estado para correr no momento. "Mas a vida não é só esse momento, menino", muitos dirão. Será? Não é ela que passa num piscar de olhos? Sejam eles cegos ou não?Talvez eu não esteja só perdendo Tempo, perdendo a visão para as coisas boas que a vida nos proporciona, estou perdendo as pessoas, coisas que eu amo com o Tempo, ou para ele. Talvez já tenha perdido a razão a muito tempo. Talvez eu fique bêbado não para perder a consciência, mas para recuperá-la ao perder o controle, não da vida. esse eu nunca tive, mas de mim mesmo.Não é apenas por vegetar e não viver que digo que sou uma planta. Há inúmeros motivos os quais não serão discutidos aqui porque acho que já me prolonguei demais e nada falei. Viver é cansativo, muito mais cansativo que horário eleitoral gratuito com a infelicidade de nem sempre ser tão divertida.Nem sei por que ainda escrevo sobre o 13 de setembro, talvez escrever sobre o 11 fosse muito mais lucrativo. Seria pretensão minha ensinar alguma coisa. Irônico? Sim, absolutamente.
Quanto mais o Tempo passa mais eu deveria aprender coisas para passar adiante, mas acho que não estou aprendendo nada de bom ou que mereça ser passado adiante.
"Minha vida passou por passar..." Por favor, joguem minhas cinzas ao mar...
" O sentimento do homem de ser um estranho no mundo, leva a uma sensação de desespero, tédio, náusea, absurdidade e vazio".
Isso resume bem o que eu sinto.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A COISA - Stephen King


Sinopse

Foi em 1958, na pacata Derry, que eles aprenderam o real sentido de algumas palavras. foi ao longo de junho de 1958, durante as férias escolares, que Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly descobriram o que significa amizade, amor, confiança e... medo.
O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixa em Derry terríveis marcas de sangue.
Quase trinta anos depois, eles voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror avassala a pequena cidade e somente eles são capazes de enfrentar e vencer a Coisa. O tempo é curto. No entanto, eles vão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar os próprios limites.

Crítica

Stephen King não recebeu o título de "O Mestre do Terror" atoa. A Coisa iniciado em 1981 e concluído em 1985 é sem dúvida mais uma confirmação disso.
O livro em si é bem extenso, tanto que foi dividido em 2 volumes que li em 2 meses.
Nele, Stephen King não injeta apenas mais uma dose de medo em nossas veias, para dizer a verdade, não me assustou tanto quanto O Cemitério, mas tem sim, suas qualidades, e muitas. Pennywise (ou Parcimonioso, na versão em português), o palhaço dançarino, com certeza é a maior representação do simbolismo d'A Coisa.
O que é e qual a origem d'A Coisa é um mistério que é revelado aos poucos (bem aos poucos, mais lá pro final do volume 2), o que se sabe é que ela assume a forma física daquilo que a pessoa mais teme. Suas vítimas, são em sua maioria crianças, por serem mais imaginativas, mais fáceis de incitar-se o medo.
Pennywise funciona como esse catalisador, ao mesmo tempo que atrai a vítima, a devora. Com certeza é o maior trunfo do livro em se tratando de medo. Sua imagem permanece gravada na memória por muito tempo com certeza sendo a fonte do medo de palhaços de muitos...
Porém, não creio que o ponto alto de A Coisa seja realmente o medo, o suspense e etc.
Na minha humilde opinião, Stephen King fez um passeio e tanto nas relações humanas, aqui. Em certos momentos achei que o livro tinha muitas partes desnecessárias, mas essa idéia se dissipou ao se olhar com mais atenção. Desenvolver 7 personagens principais de maneira com que você se identifique pelo menos um pouco com cada um e os sinta próximo de si não é fácil, mas Stephen King conseguiu de maneira primorosa tornar real cada protagonista.
A amizade que "Os Perdedores" têm desde a infância é comovente. O sacrifício que cada um faz pelos amigos em diferentes momentos, o companheirismo, a cumplicidade deles é algo que nos faz desejar vivenciar tudo aquilo. Ouvir um "eu amo vocês, caras, vocês são os melhores amigos que já tive!" de maneira pura é realmente raro. É tão real quanto a conclusão. Como muitas vezes nas nossas vidas, O Tempo leva cada um a seu caminho, e aquela amizade tão bonita se perde e cai no esquecimento por mais que você tente relembrar e retomar as pessoas e momentos que você deixou para trás, algumas vezes não por opção.
A Coisa é muito mais que um livro de terror, é uma celebração. Uma exaltação de memórias, da infância, da inocência, da amizade, do amor que com certeza fará o leitor recordar das memórias da sua infância, e, sentir saudades de tudo aquilo, da inocência que se perdeu, das amizades que jamais terá novamente e do amor que esqueceu.
Como exemplifica algumas passagens do livro:
"Talvez nem exista isso de amigos que prestam ou que não prestam - talvez existam apenas amigos, pessoas que nos apoiam quando estamos por baixo e que não nos deixam sentir solidão. Talvez sempre mereçam que nos preocupemos, que torçamos e vivamos por eles. E que também morramos por eles. Nada de amigos que prestam. Nada de amigos que não prestam. Apenas amigos de quem sentimos falta, com os quais queremos ficar, as pessoas que moram em nosso coração".
(...)
"O que importa é o amor, a preocupação, os cuidados... é sempre o desejo, jamais o tempo. Talvez seja tudo o que podemos levar conosco, ao sairmos do azul e penetrarmos no negro. Um frio consolo pode ser, porém melhor do que nenhum".
Eis tudo.
9 estrelas
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